De 19 a 22 de junho, a União Nacional dos Estudantes (UNE) realizará o Seminário Nacional “Mudar a Universidade para Mudar o Brasil”. O evento acontecerá em Brasília, na UnB, palco recente do movimento que denunciou a todo o país o escândalo das fundações privadas e da corrupção dentro da instituição, que culminou com a ocupação do prédio da Reitoria só terminada após a renúncia do Reitor e Vice-Reitor e a convocação de novas eleições.
Esse será um momento extremamente importante para o movimento estudantil brasileiro, pois durante os últimos anos o posicionamento da entidade nacional dos estudantes universitários tem seguido na contramão das lutas e das mobilizações em defesa da educação pública. Para se ter uma idéia, a diretoria majoritária da UNE passou a defender um projeto de Reforma Universitária claramente privatista apresentado pelo MEC, chegando ao cúmulo de destinar mais de R$ 3 bilhões por ano para os donos de faculdades privadas enquanto persiste o sucateamento da educação pública. Algo completamente impensável pela própria história da UNE, que nos seus congressos, encontros e seminários sempre pautaram com radicalidade a defesa de um projeto de educação pública, a exemplo de seus documentos históricos como a Carta da Bahia e a Carta do Paraná, na década de 60.
Porém, mesmo com essa posição da sua entidade nacional, o movimento estudantil não tem se omitido das lutas. Várias greves, passeatas, ocupações de reitorias têm escrito uma combativa página nas mobilizações estudantis no período atual, numa prova de que os estudantes possuem, sim, disposição para a luta e estão cientes do seu papel diante desses ataques.
Esse Seminário, que ocorre em paralelo ao 56º CONEG (Conselho Nacional de Entidades Gerais – DCE´s, UEE´s e Federações de Curso), precisa representar o fortalecimento da discussão da educação que queremos, precisa varrer as fundações privadas de dentro das instituições de ensino superior e mostrar claramente qual a saída para os problemas que o ensino superior brasileiro passa, com a ampliação massiva dos investimentos públicos, da universalização de seu acesso e da busca de um papel social para as universidades, que representem e busquem soluções para os problemas do dia-a-dia da sociedade, interagindo com o povo brasileiro, e não sejam meras reprodutoras dos interesses dos capitalistas, utilizando o desenvolvimento de novas tecnologias para ampliar a exploração dos trabalhadores.
Mobilizar as diretorias das entidades estudantis a partir dessa discussão e desenvolver ações dentro do movimento tem sido o rumo adotado pela União da Juventude Rebelião, e com certeza temos obtido êxito nesse caminho. É preciso que a União Nacional dos Estudantes assuma claramente essa postura e se coloque em defesa de um projeto de educação que se aproxime dos reais interesses do desenvolvimento nacional e social, e combata com muita disposição as tentativas de qualquer governo de atacar a educação pública, como vimos recentemente com o REUNI.
Rafael Pires
Diretor de Assistência Estudantil da UNE
Um comentário:
De 19 a 22 de junho na Universidade de Brasília - UnB, ocorreu o 56º Conselho de Entidades Gerais da União Nacional dos Estudantes, CONEG da UNE. Esse conselho é composto pelos DCE’s, executivas de cursos e entidades estaduais dos universitários de todo o país.
O CONEG sempre que se reúne discute a conjuntura da política do país, a situação da educação brasileira, as lutas estudantis em cada universidade e qual a pauta de reivindicações do movimento estudantil, representado pela UNE, devem tomar.
Porém, o que caracterizou esse CONEG foi o alto grau despolitização e desorganização, começando pela pouca participação, com apenas 154 delegados (metade do último conselho), pouca divulgação, poucos debates e até ausência mínima de estrutura de alimentação. Ainda ficou evidente a defesa cega dos planos e projetos do governo federal para a educação superior pela diretoria majoritária da UNE.
Essa mesma diretoria majoritária tem paralisado as lutas e as vindicações mais avançadas dos estudantes, principalmente, por baixar a cabeça para as migalhas que o MEC oferece as universidades públicas, como o Prouni e o Reuni, que a todo tempo são apontados como as soluções para o acesso dos jovens à universidade, mesmo tendo o Governo Federal anunciado um corte de R$ 2 bilhões na educação para o próximo ano.
Outra decisão que caracteriza essa situação do movimento estudantil foi à proposta de adiamento de um dos mais importantes fóruns de debates da UNE, o CONEB. Esse conselho reúne todos os Centros Acadêmicos do Brasil, e possui uma importância enorme por construir o trabalho da entidade pela base, junto aos estudantes. Porém foi aprovado para acontecer em janeiro, em plenas férias na maioria das instituições e junto com Bienal de Arte e Cultura da UNE, favorecendo a dispersão de debates de importantes temas.
No entanto, foi notório também à vontade de vários DCE’s, CA’s, diretores da UNE, movimentos e estudantes em mudar tudo isso e construir uma nova entidade, denunciando o projeto que vai transformar os CEFET’s em IFET’s (Instituições Federais de Ensino Tecnológico), que abrirá espaço para a implantação das parcerias público-privada e com nenhum investimento para a assistência estudantil desse ensino; denunciando o desvio de recursos públicos para as instituições privadas enquanto as universidades estaduais nada recebem, por exemplo, e pela defesa de uma UNE de luta, que defenda o livre acesso ao ensino superior, com mais investimentos para as universidades públicas, transformando-as em universidades populares, gratuitas e de qualidade para o povo brasileiro.
Tiago Medeiros Leite.
Delegado do DCE UEPB ao 56° CONEG da UNE e militante da UJR
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