quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

TESE CONEB - Apresentação

Conheça a tese REBELE-SE ao CONEB da UNE. Apresente as suas contribuições e vamos fortalecer a luta em defesa da educação e de uma UNE rebelde e combativa

REBELE-SE
Tese ao XII CONEB da UNE
Salvador / BA - 17 a 20 de Janeiro

Nos últimos dois anos, com muita disposição e rebeldia os estudantes brasileiros conseguiram protagonizar importantes lutas e mobilizações nas universidades, obtendo várias vitórias para a democracia interna, na política de assistência estudantil, nas condições de ensino das instituições e ainda desmascarar o abandono que vive a educação pública no país.

Quase 50 anos depois da realização do I Seminário Nacional da Universidade Brasileira, e 30 anos após o Congresso de Reconstrução da UNE, o movimento estudantil brasileiro se encontra mais uma vez em Salvador-BA. E é nesse sentimento de recordar a história de luta e organização do movimento estudantil que nós da tese REBELE-SE apresentamos esse documento, buscando dialogar com os Centros Acadêmicos, Diretórios Acadêmicos e demais estudantes sobre os rumos da educação universitária, do movimento estudantil e da UNE.

Orientar a luta dos estudantes a partir de bandeiras históricas e concretas do dia-a-dia dos estudantes permitirá a UNE e a todo o movimento estudantil não apenas reencontrar a sua combatividade, mas principalmente fortalecer a sua representatividade e poder de mobilização, e é nesse caminho que cada entidade presente ao 12° Conselho Nacional de Entidades de Base (CONEB) precisa participar desse importante fórum.

TESE CONEB - Conjuntura

UM SISTEMA EM CONTRADIÇÃO

A principal economia capitalista do mundo, os EUA, está em crise. Isso não é mais novidade para ninguém, mas nos últimos meses foi possível não apenas assistir a bancarrota do sistema financeiro estadunidense, como a conseqüente queda da bolsa de valores em todo o planeta. O mundo assistiu também o neoliberalismo e o capitalismo serem desmascarados em sua falsa propaganda de serem capazes de resolver os problemas da humanidade.

A explosão da crise do mercado imobiliário norte-americano rapidamente se alastrou para o setor financeiro gerando quebra só nos EUA de 17 bancos entre janeiro e setembro de 2008. A solução apontada pela burguesia para a crise foi a nacionalização das duas maiores empresas do setor de financiamento imobiliário do país, Fannie Mae e Freddie Mac, e da terceira maior seguradora do mundo, a AIG.

Utilizando o dinheiro dos impostos pagos pelo povo, o governo Bush destinará através do pacote aprovado no Congresso o montante de US$ 700 bilhões (valor igual a todos os gastos com a invasão ao Iraque), sem contar que em março, o governo já havia financiado a compra de um banco de financiamento por US$ 29 bilhões e injetado outros tantos bilhões no setor financeiro para conter a crise.

Para o povo estadunidense fica o saldo de mais de 1,250 milhão desempregados apenas no ano de 2008 e milhares de famílias sem casas por conta da divida hipotecária.

Na Europa, os governos da Inglaterra, França, Irlanda, Holanda e Bélgica anunciaram que também realizarão a nacionalização de bancos e seguradoras, para garantir a “normalidade no mercado” mostrando os efeitos da profunda crise econômica que passa a economia capitalista.

Ao todo, já são quase 4 trilhões de dólares liberados pelos principais países do mundo para os banqueiros, enquanto que para resolver os graves problemas causados pela fome, que segundo a FAO (órgão das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) atingem 925 milhões de pessoas no mundo, apenas migalhas são destinadas.

Quer dizer, para garantir os interesses das grandes corporações os governos desses países apelam para a nacionalização e a intervenção do estado na economia, mostrando o fracasso dos ideais do neoliberalismo para superar as crises econômicas e o quanto estão dispostos a sacrificar as condições de vida de milhões para assegurar os lucros e benefícios de um pequeno grupo de famílias que controla a economia mundial.

Pela Unidade e Integração da América Latina

Na América Latina, a política adotada pelos governos de caráter popular da Venezuela, Bolívia e Equador interferem diretamente nos privilégios das oligarquias e do imperialismo no sub-continente. Através das nacionalizações das riquezas naturais, esses governos tem conseguido assegurar melhorias nas condições de vida da maioria da população, e despertado a ira daqueles que por anos se beneficiaram dessas riquezas.

Várias têm sido as tentativas do imperialismo de voltar a hegemonizar a América Latina, onde a cada dia tem perdido força. Seus interesses econômicos estão em “xeque” através de medidas como a nacionalização do petróleo na Venezuela e a estatização de diversas fábricas promovidas pelo governo de Hugo Chávez, a recente e vitoriosa aprovação da Nova Constituinte no Equador, construída com os movimentos sociais e que abarca questões como a gratuidade do ensino em todos os níveis, o reconhecimento da cultura indígena e a retirada da base militar norte-americana do território equatoriano.

A repressão e a campanha que os meios de comunicação têm promovido em todo o mudo contra as FARC são a prova viva do temor do desenvolvimento da luta revolucionária por parte dos EUA. Chegou a ponto de invadir o território do Equador, resultando numa moção da OEA (Organização dos Estados Americanos) contra a Colômbia, para tentar acabar com a luta insurgente no país.

Na Bolívia, a vitória que Evo Morales obteve no referendo revogatório, confirma a opção da maioria da população pelas mudanças implementadas pelo governo do país mais pobre da América do Sul. No total, 67,41% dos bolivianos foram às urnas dizer sim a política de nacionalização dos hidrocarbonetos que permitiu financiar programas sociais e aumentar o salário mínimo.

Além disso, a distribuição de terras com sistema de crédito para os camponeses pobres, em sua maioria índios, transforma a situação dos povos originários na Bolívia que, apesar de somarem 62% da população, sempre sofreram com a falta de direitos nos governos neoliberais e corruptos.

A resposta da oligarquia boliviana e da burguesia internacional foi a tentativa de realizar um golpe contra o povo e uma campanha de difamação internacional do governo Morales, mostrando que para a burguesia conceitos como liberdade e democracia são relativos. Fica claro mais uma vez que o capitalismo não é contrario a intervenção do estado na economia, mas é contra medidas que beneficiem o povo em detrimento de seus lucros.

Conjuntura Nacional

No Brasil a situação de crise mesmo que ainda mascarada começa a dar os seus primeiros sinais. Passadas as eleições municipais, em que mais uma vez o poder econômico e os interesses das grandes empresas capitalistas foi o foco das disputas nas principais cidades do país, a grave situação que vive o nosso povo continua alarmante.

Seja por parte do governo, ou da dita oposição PSDB-DEM, a idéia da impossibilidade de construir um projeto alternativo de país, que destine o produto de suas riquezas em benefício do povo é tratado como algo inatingível.

Assim tem ganho força o socorro aos bancos, a proposta de privatização dos aeroportos (os mesmo restaurados através do dinheiro público nos últimos anos) e das rodovias, e a continuidade dos leilões das reservas de petróleo descobertas pela Petrobrás. Com isso, a alta dos preços dos alimentos e os altos índices de desemprego são uma constante praticamente inquestionável pelos meios de comunicação e os governantes.

Nesse momento de crise mundial, em que mais do que nunca fica evidente a falência do modelo de exploração e da “auto-regulação” proposta pelos ideólogos do capitalismo, é necessário se apresentar uma proposta alternativa para o país, pautada pela integração latino-americana, pelo apoio e desenvolvimento da produção agrícola para o mercado interno, combatendo o latifúndio e promovendo a reforma-agrária, incentivo a ciência e tecnologia como fator de soberania nacional, taxação das grandes empresas e o devido atendimento por parte do Estado à saúde, moradia, segurança e educação do povo, ou seja, precisamos implantar o socialismo no Brasil!

A União Nacional dos Estudantes precisa assumir uma postura independente frente ao governo federal e convocar os estudantes brasileiros a se unir na luta pelas transformações sociais que o Brasil tanto precisa, pautando os interesses básicos da população e da juventude brasileira.

TESE CONEB - A educação brasileira e o movimento estudantil

PELO LIVRE ACESSO À UNIVERSIDADE

Mais atual do que nunca, a Carta da Bahia, documento redigido pelos estudantes universitários brasileiros em 1961 durante Seminário da UNE, apresenta como principal crítica a Universidade Brasileira o fato dela se constituir como um privilégio.

Esse quadro concretamente não se transformou nesses mais de 40 anos. Obviamente, o crescimento numérico de vagas existiu. Porém diante das necessidades atuais, do próprio acesso ao conhecimento, do apoio e fomento à pesquisa, as instituições apresentam números extremamente insuficientes. Em boa parte das carreiras a elitização é uma realidade, mas a principal contradição está nas poucas vagas ofertadas.

Para superar essa realidade, apenas com uma conseqüente política de expansão de investimentos e vagas no ensino superior é que poderemos atingir esse novo patamar.

Hoje, a exclusão se materializa através do vestibular, que transfere do Estado para o estudante a responsabilidade de seu não ingresso na universidade. É preciso superar esse modelo arcaico e construir o livre acesso à universidade, como única forma de garantir a verdadeira democratização do acesso ao ensino superior.

A União Nacional dos Estudantes precisa defender o fim do vestibular e a garantia do livre acesso do povo à universidade.

A UNE e o debate da Reforma Universitária

Tendo sua história desenvolvida na luta por uma educação de qualidade e um país soberano e livre, a União Nacional dos Estudantes foi protagonista de importantes debates sobre a Reforma Universitária, em especial nos anos 1960.

Porém, a truculência do regime militar impôs uma correlação de forças adversa aos estudantes e a livre discussão sobre os objetivos e o caráter da universidade brasileira. Assim, ficou para trás o acúmulo do debate e a experiência do movimento estudantil para a introdução do acordo MEC-USAID que criou toda uma estrutura baseada em departamentos, créditos e orientando ainda mais a universidade à formação de uma “elite pensante” desligada dos graves problemas sociais que vivia o Brasil.

Desde então a luta em defesa da Universidade Pública ganhou força, e se experimentou uma importante unidade no movimento de educação. Destaque para na década de 1990 a apresentação do Plano Nacional de Educação – Proposta da Sociedade Brasileira, que foi fruto de um esforço conjunto de estudantes, professores, técnico-adminstrativos e de diversos setores da sociedade representando importantes parâmetros à transformação da educação.

O PNE sofreu duros golpes em seus objetivos fruto dos vetos do então presidente FHC, que retirava as metas de investimento do governo para a educação e, mantinha as limitações orçamentárias da educação.

Com o início do governo Lula reinicia-se o debate acerca da Reforma Universitária estimulado pelo próprio governo. Contudo, a orientação que esse projeto recebia caminhava para privilegiar a educação privada em detrimento da pública, desde as suas primeiras medidas, a exemplo do PROUNI.

A União Nacional dos Estudantes então passa a caminhar ao lado dos gabinetes de Brasília e distante de seu próprio debate sobre a educação, defendendo a proposição do MEC e dando às costas as lutas do próprio movimento estudantil contra essa flagrante proposta de privatização da educação.

Essa perda de autonomia da entidade tem custado caro a sua representatividade e legitimidade. Mesmo que ações divisionistas não tenham tido êxito, a UNE perdeu nos últimos 4 anos muito de sua capacidade de mobilização graças a política de conciliação e por representar em vários momentos a voz do governo dentro do movimento estudantil.

Derrotado no debate da educação, e com a imensa quantidade de emendas que viveu o Projeto da Reforma Universitária (PL 7200) o governo não teve força suficiente para tocar a Reforma Universitária, que pese as medidas já adotadas como as Parcerias Público-Privadas, a lei das Fundações, etc...

Nesse contexto, a UNE perdeu uma grande oportunidade de apresentar as posições do movimento estudantil diante da educação e seguiu uma posição reboquista diante do governo, enfraquecendo sua representação e a luta dos estudantes.


TESE CONEB - O Projeto de Reforma Universitária da UNE

A realização dos Seminários da UNE sobre a Universidade Brasileira na década de 1960 representam um marco para a organização do movimento e o fortalecimento do debate sobre a educação que queremos. Com muita propriedade, esses Seminários permitiram um acúmulo até então inexistente para a orientação das mobilizações e discussões sobre o papel da Universidade Brasileira e a própria reflexão dos estudantes diante da realidade em que vivíamos.

Para a tese REBELE-SE é preciso apoiar-se nesses documentos, em especial a Carta da Bahia – 1961, não só pelo seu significado histórico e simbolismo, mas pela profundidade atingida naquela formulação e por representar uma concepção crítica de que não basta revolucionar a universidade, e sim entendê-la como produto da sociedade em que está inserida, marcada ainda hoje por uma explícita contradição entre ricos e pobres, e como a produção científica deve ser aplicada nesse contexto.

Com certeza esse não é um debate simplista, ou que trate apenas da educação. Está em jogo um projeto de nação, seja ele respaldado pelos interesses das grandes empresas e das coorporações capitalistas ou como apoiar e um projeto alternativo que vise atender as necessidades mais sentidas do povo brasileiro, através de uma pesquisa farmacêutica que vise não a busca de patentes para os grandes laboratórios, e sim o acesso à saúde, que entenda a construção civil ou arquitetura não para a construção de condomínios de luxo e sim para apontar soluções para acabar com o déficit habitacional do Brasil.

Portanto, para que o projeto de Reforma Universitária da UNE esteja sintonizado com a sociedade precisamos apresentar uma clara perspectiva de mudanças e transformação social do país, condição indispensável para atingirmos a verdadeira autonomia e liberdade à produção técnico-científica. Esse é um dos principais elementos que precisa ser somado ao Projeto de Reforma Universitária da UNE.

Quanto a sua apresentação, como o conjunto de propostas, o documento aprovado no 56° CONEG em julho de 2007 na UnB traz 10 eixos fundamentais. Propomos a inclusão de mais um, a Avaliação Institucional. Na opinião da tese REBELE-SE eles eixos precisam contemplar as seguintes bandeiras:

Autonomia Universitária

Pelo fim das fundações, autonomia didático-científica das universidades e garantia de funcionamento pleno dos conselhos nas instituições privadas; Garantir uma interação entre sociedade-universidade;

Financiamento

Ampliação imediata no orçamento da educação, com aplicação de 10% do PIB para a educação e ciência e tecnologia; Obrigatoriedade de financiamento estatal às necessidades das universidades públicas, incluindo as autarquias; Orçamento participativo e debatido com a comunidade universitária, em especial nas privadas; Aumento no financiamento dos HU's por parte do Ministério da Saúde;

Democracia

Fim da lista tríplice! Eleições paritárias para reitor e paridade nos conselhos universitários, com a presença das entidades representativas; Contra a perseguição nas instituições públicas e privadas, pelo direito à livre organização dos estudantes e trabalhadores e às suas lutas;

Acesso

Pelo fim do vestibular e seu caráter excludente no acesso à educação. Por um sistema de seleção que leve em conta a assimilação de conteúdos e não a mera concorrência entre os estudantes; Ampliação imediata das vagas através da interiorização universitária, criação de cursos noturnos e melhorias nas instalações dos campi já existentes visando a garantia do Livre Acesso à Universidade; Criação de uma política de federalização de instituições de ensino;

Assistência Estudantil

Liberação imediata dos 200 milhões do Plano Nacional de Assistência Estudantil, com autonomia para debater sua aplicação em cada instituição; Rubrica específica para assistência estudantil nas universidades públicas; Por um programa nacional de reforma e reestruturação das residências universitárias; Fim das bolsas-trabalho, que as bolsas representem um apoio ao ensino, a pesquisa e aos projetos de extensão; Vinculação de 2% da arrecadação das privadas para assistência estudantil;

Ensino Privado

Maior controle do estado no funcionamento e na liberação de novas autorizações para os cursos nas instituições; Restrição total a entrada de capital estrangeiro na educação; exigência de órgão administrativo e executivo da mantenedora na própria instituição, impedindo a “gerência à distância” da faculdade; Discussão permanente sobre as planilhas de custo nas universidades, e legislação federal que regulamente a cobrança de mensalidades.

Reestruturação Acadêmica e Curricular

Democratização do conhecimento, combatendo a máxima de transmissão de conhecimento professor-aluno, entendendo a educação como um processo de construção conjunto; Unir à formação de licenciaturas a prática da pesquisa; Criação de currículos voltados a realidade regional, e fortalecendo suas potencialidades.

Ensino Tecnológico

Contra o fim dos cursos tecnológicos, garantia de seu fortalecimento e criação de política de bolsas específicas para o fomento da pesquisa aplicada; Introdução de uma visão humanística na grade curricular desses cursos; Melhoria nas instalações de laboratórios e bibliotecas de acordo com as inovações tecnológicas; Regulamentação imediata dos cursos tecnológicos, permitindo sua inserção no mercado de trabalho;

Pesquisa

Incentivo a pesquisa dentro da graduação; criação de pólos estratégicos de ciência e tecnologia com projetos que integrem as universidades; Ampliação imediata no investimento na pesquisa; Fortalecimento dos programas de pós-graduação voltado a atender demandas sociais a partir do desenvolvimento científico;

Extensão

Fortalecimento da extensão universitária, dando maior ênfase em sua inserção nos currículos e em seu financiamento, garantindo bolsas para os estudantes; Ter prioridade nas relações com entidades representativas dos movimentos populares e comunidades pobres próximas às instituições na realização de projetos de extensão;

Avaliação Institucional

Implementação da avaliação docente; Não ao ranqueamento; Participação estudantil nas CPA's e que levem-se em contas projetos de pesquisa e extensão; Estabelecimento de metas após a avaliação para melhoria da qualidade nos cursos; Avaliações locais que levem em contas especificidades dos currículos;



Nesse momento é decisivo firmar uma agenda unitária dentro do movimento estudantil para que possamos construir o Projeto de Reforma Universitária da UNE, como forma de mobilizar a sociedade para a Universidade e como podemos transformá-la.

Porém, a atual política de educação do governo tem apresentado vários elementos nocivos a educação, e para tanto a UNE precisa rever sua postura frente ao REUNI, e se posicionar com relação a IFETIZAÇÃO, que trata de uma reformulação na política do ensino tecnológico.

TESE CONEB - REUNI e IFET

Durante todo o ano de 2007, vimos a truculenta aprovação do REUNI nas universidades federais brasileiras. Com a presença de polícia federal, processos administrativos e criminais contra estudantes, mudanças de locais de reunião dos Conselhos Universitários, e até mesmo com aprovações ilegais questionadas judicialmente, os estudantes e a educação brasileira sofreram um duro golpe.


Dessa forma, o MEC passou por cima de qualquer debate sério nas instituições para impor a sua nova versão da Reforma Universitária. Prevista com base na reestruturação curricular, tendo como principal bandeira o bacharelado interdisciplinar e na redução da relação professor-aluno nas instituições, o REUNI foi adotado por praticamente todas as instituições federais.


Com essa aprovação, visando maquiar seus reais objetivos as universidades começaram a receber recursos para a realização de obras em suas instalações físicas. Some-se a isso o início de forte campanha institucional, para criar um ambiente de “revolução” nas universidades federais do país.


Contudo, já se inicia o processo de implementação do REUNI, para que em cada curso se amplie o número de estudantes sem o correspondente de professores e o aumento no índice de conclusão. Resultado, se aumentará o problema da falta de professores e, a orientação vinda por parte das pró-reitorias de graduação é de minimizar o número de reprovações para garantir que o curso não seja prejudicado com o corte de recursos.


Vale lembrar que algumas universidades pretendem implementar o bacharelado interdisciplinar, alvo principal do decreto, que representa um golpe na diplomação dos estudantes, visto que a partir do bacharelado o estudante não mais será diplomado em sua carreira, e sim numa definição geral de bacharel interdisciplinar.


Dessa forma, já se articula em várias universidades a retoma da luta contra o REUNI. A UNE que não demonstrou independência frente ao MEC para questionar a política de metas proposta no REUNI, precisa assumir uma nova postura, questionando a sua implementação e defendendo, na prática, a luta por uma educação de qualidade.


É necessário combater o déficit de professores proposto a partir do REUNI, exigindo a contratação de mais professores, combatendo as metas de aprovação e impedindo a implantação do bacharelado interdisciplinar.

Apenas assumindo decididamente essas propostas é que a UNE cumprirá o seu verdadeiro papel em defesa da educação, e não baixando a cabeça para o MEC.

IFETIZAÇÃO


Em abril de 2008, iniciou-se o processo de “IFETIZAÇÃO” no ensino técnico e tecnológico do país. Essa rede de ensino que tem vivido tantas mudanças nos últimos anos recebeu com apreensão a proposta de IFET advinda do MEC.

Acontece que a criação dos Institutos Federais de Ciência e Tecnologia, representa uma transformação no foco de ensino e de identidade dos CEFET's, principalmente no tocante ao ensino superior. Via de regra, com a implantação do ensino superior nas instituições, o ensino tecnológico foi a principal modalidade de ensino criada.


Em praticamente todos os estados o problema da regulamentação profissional e do currículo se evidenciou com a criação do catálogo de cursos do ensino tecnológico. Esse catálogo que serviria para orientar o funcionamento dos cursos, na prática tem servido para aplicar a política de acabar com o ensino tecnológico, colocando um grande número de estudantes sem o diploma após os três anos de estudos.


Com o IFET, segue esse mesmo processo, preterindo o ensino tecnológico frente a criação de cursos de licenciatura, ocupando as vagas anteriormente ofertadas. Ou seja, com o catálogo o governo dificulta a continuidade do ensino tecnológico e com o IFET decreta o fim de vários desses cursos e a sua conseqüente extinção.


É o caso do curso de Urbanização do CEFET-AL, em que os formados não conseguem registro profissional junto ao CREA, e que o MEC em audiência realizada em agosto de 2008 propôs ser extinto. Em vários outros estados, a situação não é diferente, e a regulamentação profissional é o grande fantasma para quem cursa o ensino tecnológico.

Os estudantes têm feito iniciado lutas em defesa do ensino tecnológico e é necessário que a União Nacional dos Estudantes assuma essa bandeira, não permitindo que se diminuam as vagas ou extinguam os cursos. A criação dos cursos de licenciatura precisam ser fruto de uma expansão nas vagas do ensino superior nos IFET´s, e não representar a diminuição do ensino tecnológico, sem falar na necessária regulamentação dos cursos e a garantia de que o catálogo signifique uma unidade entre o que é ensinado no país, e não cumpra papel restritivo impossibilitando o funcionamento dos cursos.

TESE CONEB - Movimento Estudantil

A realização do 12°CONEB da UNE dará a largada para a preparação do 51°Congresso da entidade, e esse momento é muito importante para que possamos fazer um balanço crítico da atual gestão e do quadro que vive o movimento estudantil brasileiro.

Depois de um longo período de refluxo, o movimento estudantil reassumiu sua característica de luta e combatividade. Não há praticamente nenhum estado em que nos últimos dois anos os estudantes não tenham realizados atos, greves e ocupações de reitorias apresentando reivindicações com relação a assistência estudantil, contra as taxas, aumentos nas mensalidades, corrupção na administração universitária e nas fundações, e contra as políticas educacionais dos governos estaduais e principalmente do governo federal a partir do REUNI e sua anti-democrática implantação.

Tudo isso serviu para reorganizar a participação dos estudantes nos espaços do movimento estudantil, e nos permitir envolver cada vez mais pessoas nos debates sobre os rumos da Universidade e da organização da luta dos estudantes.

Nacionalmente ficou ainda mais claro o papel que pode e deve cumprir a UNE para orientar as lutas estudantis, num diálogo permanente com a base do movimento através dos CA's, DCE's e Executivas de Curso. Nesse sentido o adiamento desse CONEB que deveria ter acontecido em 2008 é prova do interesse da diretoria majoritária em esvaziar as discussões dentro da entidade.

A UNE não conseguiu dialogar com o movimento estudantil na questão do REUNI, a partir de uma posição recuada e conciliadora com a política do MEC, se afastando da luta que mobilizou milhares de estudantes no país, em ocupações de reitorias e atos durante as reuniões dos conselhos universitários, perdendo um grande momento para debater concretamente uma proposta de expansão universitária com vistas a universalização do acesso, aceitando as imposições do MEC que levam a perda na qualidade do ensino. Em vários locais, o campo majoritário da UNE chegou a se colocar contrário aos estudantes em luta contra o REUNI.

Durante o seu último CONEG, na UnB, não foi possível gerar a verdadeira unidade no movimento estudantil diante da pauta da educação, realizando durante o Seminário de Educação discussões que não se refletiram na formulação aprovada pela entidade. Dessa forma as resoluções da entidade não representam os debates travados pelos DCE's.

Até mesmo a Caravana da Saúde que poderia envolver a rede do movimento estudantil, não tem conseguido cumprir satisfatoriamente seu papel, e evidencia a desarticulação da UNE com entidades de base por todo o país.

As reuniões da diretoria ganharam maior regularidade durante a última gestão, porém precisam se tornar um espaço maior de decisões que apenas referendar a diretoria executiva. O intercâmbio possível dentro das lutas do movimento acaba se perdendo e enfraquecendo a capacidade de articulação da entidade.

A TESE REBELE-SE NA UNE


A participação da tese REBELE-SE nessa diretoria se faz através da Diretoria de Universidades Públicas (Fernanda Bloise – UFABC), Diretoria de Relações Internacionais (Natália Alves – UFRJ) e a Diretoria de Assistência Estudantil (Rafael Pires – UFAL).

Com a participação desses diretores, e das entidades de base que apóiam e constroem a tese foi possível se fazer presente em várias lutas e ações do movimento estudantil brasileiro. Em ocupações de reitoria, atos públicos e visitando universidades públicas e privadas foi possível contribuir com a luta e a organização do movimento estudantil em vários estados.

Destaca-se a mobilização dos estudantes da UFABC contra a transformação da universidade em fundação pública de direito privado, chegando a entregar pauta de reivindicações nas mãos do presidente exigindo o caráter público da instituição e a construção do Bandejão da universidade.

A realização do Encontro Internacional da Juventude Antifascista e Antiimperialista – EIJAA, em julho de 2008, em parceria com a UFRJ reunindo jovens de diversos países, e ainda as visitas a Espanha e República Dominicana realizada pelos diretores permitiu intercâmbio entre a luta dos estudantes brasileiros e de todo o mundo.

Durante a gestão, os diretores da tese REBELE-SE estiveram participaram dos espaços da diretoria contribuindo com as ações da entidade e sempre apresentando a posição de independência da UNE frente ao governo federal e do fortalecimento da luta e solidariedade ao movimento estudantil em todo o país, estando presente nas reuniões de diretoria e com importante presença no último CONEG.

Essa luta contudo, precisa assumir uma nova dimensão. O movimento estudantil brasileiro vive um momento extremamente importante para a sua organização. A prática mostrou que o caminho de divisão proposto por alguns, se fez estéril e sem a representatividade necessária. Unificar os setores do movimento estudantil é uma tarefa decisiva e para isso a participação e intervenção das entidades que tem construído as mobilizações cotidianas em defesa da educação precisa ser o tom desse 12° CONEB.

Cada entidade precisa assumir a responsabilidade de recondução do movimento estudantil combativo para a direção da luta dos estudantes e de suas entidades e com a UNE não será diferente.

É preciso gerar a unidade de ação e crescer as mobilizações por todo o país, só assim será possível desalojar o movimento burocrático que sobrevive dentro da entidade, e é com essa disposição que a tese REBELE-SE convoca as entidade de base e os estudantes para fortalecer a nossa intervenção dentro do 12° CONEB, nos permitindo recolocar a UNE ao lados dos estudantes e com disposição e força para lutar em defesa dos nossos interesses.